Você partiu em um sábado qualquer, e eu nem mesmo percebi. Admito não ter notado nenhuma mudança no tecido da realidade; nenhuma nuance anômala no funcionamento do universo que me remetesse a sua inesperada partida. Eu descobri sobre o ocorrido exatamente uma semana depois, por intermédio de um agente do Acaso que eu nem mesmo conhecia. Um simples aviso sobre um derradeiro adeus cruzou minhas redes sociais, convidando-me para o mesmo lugar que você tantas vezes havia tentado me apresentar, e que eu nunca conheci por questões que agora soam supérfluas. Uma despedida que seria embalada pelas músicas duvidosas que você tanto gostava – e que há dias eu não paro de escutar –, e da companhia daqueles que escolheu chamar de família em uma cidade que a ti era tão estranha quando ainda conversávamos.
De sua morte, eu guardo apenas dores e arrependimentos. Para aquele que elegeu como seu companheiro, sobrou um amargo acalento: “Obrigado, amor. Estou indo para casa”. Eu, por outro lado, nem sequer lembro quais foram nossas últimas palavras; muito menos quem primeiro seguiu a própria história, desistindo de insistir em uma relação fadada ao esquecimento. Mesmo assim a dor existe, e torna-se impiedosa e pungente diante daquilo que um dia apresentou a possibilidade de durar.
Você foi uma pessoa incrível, Noêmia, que será lembrada por muitos não apenas pelas memórias criadas, mas também pelo espaço que deixara nos corações dos que persistem. Eu desejo que a doce escuridão do vazio te traga uma intoxicante paz. Para todo o sempre, sentirei sua falta.
- Gabriel Ract -
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