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Festival da Lua

O Festival da Lua é um evento anual que marca o fim do outono para muitos povos nativos da costa oeste norte-americana. Embora seja considerado um festival tradicional e com grande significado espiritual, boa parte das tribos que ainda o comemoram tem recebido turistas durante as festividades dos últimos anos. Muitos estudiosos e entusiastas, de origem indígena ou não, repudiam essa abertura, e questionam qual será o impacto desse choque cultural para o bem-estar espiritual das tribos envolvidas.


Mesmo em meio a tanta polêmica, turistas e curiosos continuam a invadir as tribos todos os anos. Apesar de no início a presença destes não interferir totalmente nas festividades, atualmente o grande número de visitantes obrigou os nativos a adaptarem as suas tradições. O pacato Festival da Lua, evento para reflexão e sacrifício em nome de um bom inverno, vem se transformando cada vez mais em uma enorme feira ao ar livre. Até mesmo o voo das araras, clímax das festividades, foi transformado em um evento de grandes proporções, e um marco global de beleza e respeito a diversidade cultural.


Após quase uma década de debates, que pareciam estar fadados a terminarem em um triste consenso comercial, essa semana a discussão ganhou um novo fôlego. Na última quarta-feira, na noite do festival, Jane Clintwood, 14 anos, desaparecera em meio às comemorações enquanto acompanhada por sua família.


Em depoimento à polícia, os pais negaram terem saído de perto da garota. Em choque, afirmavam que a sua filha havia sido roubada deles por uma força sobrenatural que não eram capazes de descrever. Também abordado pela polícia, o pajé da tribo se negou a dar entrevista, afirmando que o festival não tinha nenhuma relação com o caso. Apesar da alegação, o seu silêncio apenas despertou uma parte da história que até então muitos vinham ignorando.


Séculos antes da invenção de nossos calendários, os nativos da costa oeste já celebravam o Festival da Lua. O intuito original das comemorações, porém, passava longe de ser a festa alegre que conhecemos. O último dia do outono marca o início de um extenso período de fraqueza espiritual de seus deuses e entidades, delimitando os meses em que estes, caso não conseguissem energia espiritual o suficiente por intermédio de seus cultos, costumavam sequestravam moças de coração puro como fonte de alimento. Desde os primeiros desaparecimentos, as comemorações se tornaram uma sólida tradição, de estruturas que apenas agora estava sendo abaladas.


Embora a acusação de abandono de seus deveres dificilmente pudesse ganhar peso no mundo atual, um fato estranho ocorreu na manhã após o incidente, levando muitos a questionar seu próprio ceticismo. Um grupo de adolescentes que estavam acampando próximos a tribo em que ocorrera o sequestro relataram ter encontrado uma garota na manhã seguinte ao festival. Segundo estes, a menina aparecera no alto de um desfiladeiro, vestindo um enorme cocar na cabeça, assim como incomuns olhos amarelos, fixos em algo que não conseguiam ver. Em mãos, levava uma espécie de garrafa com uma mensagem dentro. O grupo disse que tentara se aproximar, mas foram surpreendidos por uma revoada de araras vermelhas, provavelmente escondidas na floresta após terem sido libertadas no festival. Quando puderam retomar a sua caminhada, a garota havia desaparecido, sem deixar qualquer rastro.


Apesar de não conseguirem reencontrá-la, um dos adolescentes conseguiu fotografar o ocorrido. Tanto a polícia quanto os pais de Jane confirmaram que aquela realmente era a garota desaparecida, e promoveram incessantes buscas na região onde fora encontrada, sem sucesso. Desde então a foto se espalhou rapidamente, tornando-se um mistério mundial. O que acabou repercutindo disso tudo foi aquele antigo medo humano, de que exista algo sobrenatural capaz de se intrometer diretamente em nossas vidas. Embora muitos neguem que isso seja possível, o desaparecimento inexplicável da garota, o temor dos aldeões da fatídica tribo em darem informações sobre o ocorrido, assim como a misteriosa fotografia na manhã seguinte ao desaparecimento, se tornaram fantasmas impossíveis de serem ignorados.


Há, claro, aqueles que digam que o sequestro não passara de uma tentativa de boicote de grupos indígenas radicais que são contra o novo modelo do festival. Ninguém pode negar, porém, que o maior presente proveniente desse evento tenha sido uma única e quase esquecida pergunta: até que ponto podemos estar seguros daquilo que não conseguimos explicar? Que encontremos uma resposta logo, antes que novas Janes surjam para nos assombrar.


- Gabriel Ract -

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